sexta-feira, 25 de abril de 2008

O BARDO E O DRUÍDA

A nossa inefável Assembleia da República continua a ser uma escola de virtudes.
Numa sessão recente, o deputado Patinha Antão e o Ministro das Finanças discutiam sobre as dívidas do Estado e o fenómeno da desorçamentação, trazendo, a benefício do Povo, alegorias com a banda desenhada de Astérix e Obélix.
Bem sei que dos deputados e dos membros do Governo não se esperam ideias, mas exige-se, em nome da mais elementar decência, que, querendo ser irónicos, ao menos o façam com eloquência e graça.
Mas o que assistimos neste "debate" não foi nem graça engenhosa, nem discurso primoroso - foi a demonstração espontânea da boçalidade dos oradores.
O deputado comparou o Ministro ao bardo da aldeia dos gauleses, que por tão mal cantar apanhava com peixes podres na cara.
O Ministro reagiu dizendo que se sentia mais como o druída Panoramix, por ter a poção mágica do equilibrio orçamental.
Ou seja: no Parlamento já não se discute sequer política!
O que se discute são os heróis da banda desenhada!
Para acudir a tal infortúnio sugerimos aos visados, a propósito da história dos desfalques com que o Estado nos presenteia, que troquem apenas uns bilhetinhos (de preferência soprados de uma esferográfica sem carga) onde se insultem mutuamente, com liberdade total, dispensando-nos ao espectáculo público da sua alarvidade.
É que, admito que ainda não tenham reparado, os cidadãos assistem atónitos a estas disputas, sem perceberem porque é que cada vez vivem pior, sem ensino e saúde decente, sem segurança e com menos emprego, apesar do estupendo fenómeno da consolidação das contas públicas...