domingo, 6 de fevereiro de 2011

COMO PERGUNTAR

COMO PERGUNTAR
Anda a maioria dos nossos políticos entretida, com o Governo e o Primeiro-Ministro à cabeça, com a questão do casamento homossexual.
Descontada uma ínfima parte da população que ainda julga que “homossexual “ significa um detergente para o sexo, a grande maioria dos portugueses identifica estes sujeitos de outra forma, que o politicamente correcto impõe que não se pronuncie.
Ora, sabendo-se da alta estima que os portugueses nutrem pelos seus políticos, que por acaso varia entre a genuína fúria e a total indiferença, convém abordar este tema sob a perspectiva popular… e não daqueles que a dizem representar!
Vem esta arengada a propósito da hipótese de se vir a referendar a institucionalização do casamento homossexual.
Aqueles que defendem o referendo argumentam com o facto de se tratar de uma questão de consciência, tal qual a questão do aborto, pelo que mereceria a consulta popular.
Os que se opõem a tal propósito dizem-se legitimados pelo voto popular, porque (pasme-se!) tal medida vinha incluída no seu programa eleitoral que os portugueses sufragaram.
Sejamos sérios: nenhum português, desde o mais recôndito cidadão, que habite isolado nas faldas da serra, até o mais erudito cientista repleto de tecnologia, conhece o programa eleitoral dos partidos políticos.
Mesmo aqueles que o escreveram, suspeita-se, não os conhecem na íntegra, atendendo que a amálgama de textos que o constituem, terem, notoriamente, vários autores.
Razões suficientes e bastantes para que tal assunto seja submetido a referendo popular.
Dando isto por adquirido centremo-nos na questão essencial: qual deve ser, então, a pergunta a formular aos portugueses?
Os homens que namoram com outros homens são, para o cidadão comum, conhecidos por paneleiros ou maricas – sendo que esta última qualificação é apenas usada quando há crianças por perto.
Assim sendo, sabendo-se que só podem votar os cidadãos maiores de 18 anos, fica facilitada a tarefa de definir quais são os sujeitos a identificar na questão a submeter ao veredicto dos portugueses, sem causar nenhum trauma às crianças.
Aliás, subtrair a audição dos portugueses nesta questão seria uma grande paneleirice. Como, com legítima indignação, serão apelidados de grandes paneleiros todos aqueles que pugnarem para que o povo não seja consultado nesta magna questão de interesse nacional.
Ou seja: se alguns políticos já eram vulgarmente invectivados de malandros, canalhas e “aqueles cabrões”, passarão também a ser nomeados como “aqueles paneleiros”!
Nada que os incomode por aí além, porque alguns deles os são mesmo, justificando plenamente o epíteto.

Mas não nos desviemos do nosso propósito de contribuir, desinteressadamente, para que a pergunta possa ser formulada com objectividade, clareza e precisão.
Determinando a lei que a pergunta ou perguntas a submeter a referendo não podem ser precedidas de quaisquer considerandos, preâmbulos ou notas explicativas, as quais poderiam sugerir ou influenciar o sentido da resposta, e sabendo-se que em qualquer referendo a escolha se resume ao “sim” ou “não”, mandando a lei portuguesa cercear aos portugueses quaisquer veleidades de aporem outros comentários no boletim de voto, convém que a pergunta seja clara e entendível.
Temos para nós, apesar da grandiosidade do tema, que a questão deverá ser formulada de forma singela e acessível.
Pelo que será de afastar palavras como roto, bicha e rabicho por serem fórmulas menos consensuais e até com duplo significado, ao que acresce que a palavra gay é particularmente intolerável (mais outra paneleirice!) por ofender o nosso sentido patriótico de defesa da língua portuguesa, no seu aspecto mais vernáculo.
Assentemos pois que não falaremos em casamento homossexual nem em casamento entre pessoas do mesmo sexo, pois tal seria uma fonte de confusões insanável.
Lembremos a propósito que muitos portugueses, designadamente no preenchimento de formulários onde debitam a sua identificação, respondem sim a seguir à palavra sexo.
Também a hipótese de perguntar se um homem pode casar com outro homem, ou uma mulher casar com outra mulher, é de recusar, por se admitir que a mesma é capciosa – ou um deles não é homem ou uma delas não é mulher!
Pelo que surge meridianamente clara a solução para tal imbróglio!
A única pergunta objectiva, clara e precisa é a seguinte:
Deve ser autorizado o casamento de paneleiros uns com os outros?
Esta é a única questão a apreciar. Discorrer sobre os seus possíveis efeitos caberá aos estudiosos fazê-lo, prever as suas consequências será tarefa de visionários, mas o que importa, verdadeiramente, é respeitar a vontade popular.
Por isso se aconselha aos políticos que se deixem de paneleirices e resolvam esta matéria rapidamente. Porque as grandes preocupações dos portugueses estão todas por resolver e esta não é, seguramente, uma delas!

Nota final – Quando escrevi estas páginas ainda se discutia esta questão. Todos sabem que, numa medida para lamentar, foi recusada que esta matéria fosse referendada pelo Povo tendo, para lamento de muitos, sido aprovado o “casamento” homossexual…

O ELEVADOR DA GLÓRIA

O ELEVADOR DA GLÓRIA


Por decisão da CARRIS, a utilização do elevador da Glória, para quem não seja detentor do passe social daquela instituição, obriga à compra de dois bilhetes, no valor total de € 3,00, independentemente do cliente pretender fazer apenas uma viagem – para cima ou para baixo.
Esta decisão, que encheu de júbilo todos os lisboetas e, também, os turistas ou visitantes ocasionais desta cidade, é um paradigma sobre como agir para fazer face à crise que nos atormenta.
Esta medida ímpar – de vender bilhetes unicamente aos pares – ilustra quanto esta empresa pública de transportes se preocupa em mimar e educar os seus clientes.
Opondo-se às brejeiras campanhas do “pague um e leve dois”, com um inexcedível sentido de bom gosto e de modernidade, a CARRIS contrapõe “pague dois mesmo que só use um”.
Bem sabemos que os habituais invejosos recriminarão tal decisão, caluniando-a, torpemente, como uma medida para arrancar dinheiro ao consumidor contra a sua vontade.
Mas só a inveja pode alimentar tamanha calúnia!
O frequentador do elevador da Glória não pode ser confundido com o ordinário viajante que paga apenas um bilhete por trajecto – este limita-se, qual carneiro em rebanho, a seguir com os outros.
Ao invés, no elevador da Glória, o viajante tem o privilégio da escolha, livre e consciente, de só subir ou só descer, ou ainda de fazer as duas coisas, o que muito enriquece o património intelectual da humanidade.
Estamos certos que os turistas que nos visitam hão-de descrever esta experiência junto dos seus conterrâneos com entusiasmo indescritível, recolocando Portugal nas bocas do mundo, glorificando este fenómeno civilizacional.
Vaticino, assim, o próximo reconhecimento do elevador da Glória como monumento nacional e como um novo ex libris da cidade de Lisboa, ou mesmo de Portugal.
Esta minha convicção advém do facto da Torre Eiffel ser um dos símbolos de França e também aí se vender um só bilhete para os percursos ascendentes e descendentes, embora necessariamente por esta ordem. Resulta daqui provado que os críticos desta medida revelam, também, uma concepção provinciana deste novo modelo tarifário.
Nem se oponha que do alto da Torre Eiffel não se vai a lado nenhum, pois todos sabemos que a principal função dos elevadores é subir e descer.
Também neste aspecto o elevador da Glória leva a palma a outros monumentos do género. Ao terminar a subida (ou descida) o utente sai para a rua, fazendo o que muito bem lhe aprouver. Até pode com este bi-bilhete subir duas vezes ou descer duas vezes – é a liberdade em todo o seu esplendor.
Ou seja: é livre de escolher o seu percurso, não é enclausurado no elevador, mesmo que pretenda voltar ao lugar de origem.
Ora, tudo isto propicia a reflexão filosófica e permite-nos usufruirmos de raros momentos de reflexão introspectiva sobre a magna questão: porque tenho de pagar dois bilhetes se apenas quero fazer um trajecto?
Haverá algo de mais sublime, de mais profundo, do que isto?
Bem-haja à CARRIS por nos ter elucidado, de forma tão arrebatadora, sobre o pleno significado da expressão “serviço público”!