sexta-feira, 13 de junho de 2008

A nova trilogia dos “efes”

O Presidente da República, no passado dia 10 de Junho, em discurso proferido no Parlamento, evocou o dia da raça.
Tal bastou para que as luminárias habituais suscitassem os fantasmas do passado, vendo resquícios do fascismo em tal prodigiosa afirmação.
Que querem explicações para tão tremenda ofensa.
Como seria de esperar, com pacata sensatez, o Presidente da República não lhes fez a vontade, ignorando esse ulular inconsequente de uma esquerda velha e caduca que vive mergulhada nos mitos do passado.
Porque ter raça significa ter vontade inquebrantável, ser perseverante, determinado e lutador, o que nos tempos que correm vivamente se aconselha aos portugueses.
Aliás, o espectro fascizante que alguns quiseram associar a tal dito parece mostrar o receio que a trilogia do Estado Novo – Fado, Futebol e Fátima - ressuscite das cinzas.
Cumpre-nos informar os mais desatentos que a famosa e temida trilogia de Salazar já anda por aí à solta, à descarada, embora com novas roupagens.
Agora os três “efes” são fado, futebol e festa, secularizando o fervor religioso de Fátima.
O novo fervor nacional é a nossa selecção de futebol.
Aumentam os combustíveis pela enésima vez – marque-se um golo à Turquia!
O país corre o risco de paralisar em face do bloqueio dos camionistas – desfaça-se a muralha defensiva da equipa checa!
O Governo mostra uma notória incapacidade para reagir a estes novos tempos de crise - sirvam-se, em doses maciças, reportagens sobre o quotidiano da nossa selecção.
Curioso, de facto, é que os nossos políticos (em particular aqueles que são oposição ao Governo) não tenham a coragem de assumir que esta forma de tratar o futebol é o novo ópio do povo.
Como é evidente a nossa selecção não tem qualquer culpa nisto. Limita-se - dando lições de competência e eficácia - a ir despachando os adversários que se nos deparam.
Mas, objectivamente, se as vitórias da selecção nacional embriagam os portugueses há que temer a consequente ressaca.
Acabado o Europeu de Futebol a ilusão da festa termina e volta o fado.
Por cada novo aumento de combustíveis já não há golos para mostrar, apenas o desespero e a revolta contra a ineficácia e insensibilidade do Governo.
Estiola a agricultura, afunda-se a pesca, esmorece a esperança – já não há desfiles da selecção e festejos que nos acudam.
A Justiça continua sem meios, é lenta e ineficaz – já não entusiasma uma discussão sobre um erro de arbitragem no Europeu.
A insegurança alastra, a burocracia imobiliza-nos – de nada nos serve reflectir sobre as tácticas da nossa selecção.
Recomeçam as aulas e a educação continua sem funcionar - já não há entrevista a Scolari que nos entretenha.
A economia resvala, empobrecem os portugueses, o país definha – nem as fintas de Cristiano Ronaldo nos servem de consolo.
Acabado o Europeu de Futebol, o país não voltará a ser como era. A depressão será maior, o quotidiano estará pior…
Para agravar tal situação confirmámos, de fonte segura, que o Chelsea não pretende levar o Eng.º Sócrates.
Nem sequer para apanha-bolas!

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