quarta-feira, 25 de abril de 2012
A ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL E O DITO
A Associação 25 de Abril fez saber que não participará nos actos oficiais nacionais evocativos do 38º aniversário do 25 de Abril.
Tal decisão deixou o país consternado e, esmagado por tamanho opróbrio, estupefacto perante tal atitude.
Esta associação que reúne uns senhores que se auto-intitulam de “Militares de Abril” justifica esta sua posição, ditada pela sua ética e moral que muito prezam (sic), considerando que a linha política seguida pelo actual poder político deixou de refletir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril configurado na Constituição da República Portuguesa e, também, por o poder político que actualmente governa Portugal, configura um outro ciclo político que está contra o 25 de Abril, os seus ideais e os seus valores.
Embora não se trate de uma associação de engenheiros informáticos, como seria lícito supor, esta caridosa associação funda o seu protesto com base em configurações, a saber: a configuração da Constituição e a configuração do ciclo político.
Mas sem razão!
Na verdade, afirmar que a linha política seguida pelo actual poder político deixou de refletir o regime democrático, é ignorar os princípios constitucionais que regem o nosso regime. Ou será que não foi a actual composição da Assembleia da República determinada por sufrágio universal dos portugueses, daí resultando a escolha do actual Governo? E que a legislação e tratados internacionais são aprovados por órgãos de soberania eleitos, directa ou indirectamente, por escolha dos portugueses?
Uma coisa é discordar-se, divulgando essa discordância, das opções políticas da actual maioria, outra, bem diferente, é apelidar tais opções como ilegítimas no regime democrático.
Ao agir assim, a A25A (petit nom confundível com uma matrícula automóvel incompleta) denota os tiques autocráticos de alguns dos seus membros que já fora antes demasiado visível, no período que mediou entre 25 de Abril de 1974 e a posse do primeiro Governo constitucional (também o primeiro a ser resultado da livre escolha dos portugueses).
Ou julgam estes senhores – os auto-intitulados militares de Abril – que a nossa memória apagou a forma como foi imposta a primeira versão da Constituição da República Portuguesa, precedida do Pacto MFA/Partidos Políticos?
Ou que já esquecemos órgãos como o Conselho da Revolução e o COPCON e os seus desmandos?
Ou ignoram estes senhores que os princípios fundamentais porque se rege a República Portuguesa constam da Constituição, estando nela previstos os modos da sua fiscalização efectiva e promoção do seu respeito?
Sem prejuízo de se reconhecer o papel dos militares no derrube da ditadura e sem ponta de ingratidão quanto a esse facto, não é mister reconhecer que enquanto Portugal foi governado transitoriamente pelo poder militar, o Estado era ainda um tímido simulacro do Estado de Direito que temos hoje?
Pois então com que autoridade superlativa em relação a qualquer outro cidadão se arrogam das obrigações patrióticas que a condição de Militares de Abril lhes impõe?
Como podem afirmar que o novo ciclo político está contra o 25 de Abril, os seus ideais e os seus valores?
Entendamo-nos quanto ao significado do 25 de Abril de 1974: esta data marca o derrube do regime anterior, através de um golpe militar, que visou que fosse restabelecida a democracia.
Sobre isto todos estamos de acordo! Quanto ao desenvolvimento desses princípios democráticos milhares de páginas foram escritas e continuarão a sê-lo.
Tal como qualquer corrente ideológica interpretará como entender qual o significado político do 25 de Abril de 1974.
Mas arrogar-se como guardiã e intérprete única dos ideais de Abril, como faz implicitamente a A25A, constitui uma visão anti-democrática, por pretender precisamente definir o conteúdo e a extensão da democracia a um único conceito, o que é a forma mais eficaz que conheço de desvirtuar a própria democracia.
Há realmente um problema de configuração, só que nada tem a ver com a Constituição ou com a democracia.
O problema de configuração resulta, tão-somente, do 25 de Abril de 1974 não ter donos, ou personalidades endeusadas que definam unilateralmente o seu significado.
Não compreender isto é não compreender o significado da democracia, o que sendo grave não belisca a liberdade de expressão que é um dos corolários desta.
Não aceitar o convite que lhe foi endereçado para estar nas comemorações do 38º aniversário de 25 de Abril é um direito que assiste à A25A. Já as razões apontadas para o declinar são democraticamente inaceitáveis, mas mesmo assim ainda um direito.
Viva a democracia!
segunda-feira, 21 de março de 2011
ECOS DO PEC E DO PREC
Segundo nota oficial o Conselho de Ministros aprovou o PEC IV, em reunião extraordinária, neste último domingo.
O que não deixa de ser notável, por duas ordens de razões:
- Quando se julgava que já não tínhamos Governo, eis que este, subitamente, num assomo típico de alguns moribundos, resolve reunir ao domingo;
- Só agora o Conselho de Ministros aprovou uma proposta que o Conselho Europeu já conhecia há vários dias, bem como a generalidade dos funcionários de Bruxelas, desde o Director-Geral até ao porteiro.
Ou seja: mais uma prova determinante da coerência de Sócrates, que nada disse ao Presidente da República, ainda menos ao Parlamento, ignorando os parceiros sociais e não maçando essa massa informe de portugueses (também conhecida por povo), que só servem para pagar impostos e votar de quando em vez, mas também manteve os seus próprios ministros na ignorância dos seus propósitos, sem prejuízo da maioria deles serem, já por si, inatamente ignorantes.
Porquê este secretismo e qual o simbolismo de reunir ao domingo quando houvera uma reunião do Conselho de Ministros na quinta-feira?
Só a História fará verdadeira justiça a personagem tão ilustre, este iluminado ser que ainda consente ser nosso Primeiro-Ministro, apesar da manifesta ingratidão com que os seus conterrâneos o tratam.
Que é um incompetente, um mentiroso, um demagogo e um homem sem instrução, bradam os seus detractores.
Mas Sócrates, como homem de soberba cultura, apenas repetiu o episódio de Egas Moniz: de corda ao pescoço apresentou-se aos senhores da Europa com mais um pacote de austeridade, sacrificando o povo português a essas divindades. Na verdade a corda é agora uma gravata, mas o acto simbólico de contrição é o mesmo – pedir a esmola e o perdão das potências europeias, para que estas fixem o nosso destino.
Fê-lo sozinho? E à socapa?
Não, foi em nome da Pátria que assim agiu!
Mas os mercados financeiros, pouco dados a comoverem-se com estes espectáculos, continuam a penalizar Portugal com taxas de juro exorbitantes.
Perseverante, Sócrates jura que não precisamos de ajuda externa.
Traz-nos, por isso, à memória a história do único cristão da aldeia que em face de chuvas diluvianas, enquanto esta ficava submersa pelas águas, orava a Deus para o salvar, recusando a ajuda de três aldeões que, sucessivamente, lhe ofereceram lugar num barco em que fugiam do inevitável afogamento.
Apesar de ser o único crente naquela aldeia foi o único que pereceu, por afogamento, pelo que não pode conter tal desabafo quando chegou à presença de Deus.
Este retorquiu, com serenidade:
- Mas, meu filho, eu enviei-te três barcos para te salvares e tu recusaste embarcar em quaisquer deles!
Perdoem estas divagações deste vosso humilde servo, que já torno ao assunto que nos ocupa – a reunião do Conselho de Ministros ao domingo.
O simbolismo deste dia semana, tradicionalmente destinado ao descanso, só pode ter um significado: o mais eloquente de todos os sermões é o exemplo.
Hoje falamos do PEC como em 1975 se falou do PREC. Nessa altura pediu-se um dia de trabalho pela Nação…
Temo que o PEC V nos obrigue a trabalhar ao domingo!
A não ser que, entretanto, Sócrates se afogue…
21 de Março de 2011
Segundo nota oficial o Conselho de Ministros aprovou o PEC IV, em reunião extraordinária, neste último domingo.
O que não deixa de ser notável, por duas ordens de razões:
- Quando se julgava que já não tínhamos Governo, eis que este, subitamente, num assomo típico de alguns moribundos, resolve reunir ao domingo;
- Só agora o Conselho de Ministros aprovou uma proposta que o Conselho Europeu já conhecia há vários dias, bem como a generalidade dos funcionários de Bruxelas, desde o Director-Geral até ao porteiro.
Ou seja: mais uma prova determinante da coerência de Sócrates, que nada disse ao Presidente da República, ainda menos ao Parlamento, ignorando os parceiros sociais e não maçando essa massa informe de portugueses (também conhecida por povo), que só servem para pagar impostos e votar de quando em vez, mas também manteve os seus próprios ministros na ignorância dos seus propósitos, sem prejuízo da maioria deles serem, já por si, inatamente ignorantes.
Porquê este secretismo e qual o simbolismo de reunir ao domingo quando houvera uma reunião do Conselho de Ministros na quinta-feira?
Só a História fará verdadeira justiça a personagem tão ilustre, este iluminado ser que ainda consente ser nosso Primeiro-Ministro, apesar da manifesta ingratidão com que os seus conterrâneos o tratam.
Que é um incompetente, um mentiroso, um demagogo e um homem sem instrução, bradam os seus detractores.
Mas Sócrates, como homem de soberba cultura, apenas repetiu o episódio de Egas Moniz: de corda ao pescoço apresentou-se aos senhores da Europa com mais um pacote de austeridade, sacrificando o povo português a essas divindades. Na verdade a corda é agora uma gravata, mas o acto simbólico de contrição é o mesmo – pedir a esmola e o perdão das potências europeias, para que estas fixem o nosso destino.
Fê-lo sozinho? E à socapa?
Não, foi em nome da Pátria que assim agiu!
Mas os mercados financeiros, pouco dados a comoverem-se com estes espectáculos, continuam a penalizar Portugal com taxas de juro exorbitantes.
Perseverante, Sócrates jura que não precisamos de ajuda externa.
Traz-nos, por isso, à memória a história do único cristão da aldeia que em face de chuvas diluvianas, enquanto esta ficava submersa pelas águas, orava a Deus para o salvar, recusando a ajuda de três aldeões que, sucessivamente, lhe ofereceram lugar num barco em que fugiam do inevitável afogamento.
Apesar de ser o único crente naquela aldeia foi o único que pereceu, por afogamento, pelo que não pode conter tal desabafo quando chegou à presença de Deus.
Este retorquiu, com serenidade:
- Mas, meu filho, eu enviei-te três barcos para te salvares e tu recusaste embarcar em quaisquer deles!
Perdoem estas divagações deste vosso humilde servo, que já torno ao assunto que nos ocupa – a reunião do Conselho de Ministros ao domingo.
O simbolismo deste dia semana, tradicionalmente destinado ao descanso, só pode ter um significado: o mais eloquente de todos os sermões é o exemplo.
Hoje falamos do PEC como em 1975 se falou do PREC. Nessa altura pediu-se um dia de trabalho pela Nação…
Temo que o PEC V nos obrigue a trabalhar ao domingo!
A não ser que, entretanto, Sócrates se afogue…
21 de Março de 2011
domingo, 6 de fevereiro de 2011
COMO PERGUNTAR
COMO PERGUNTAR
Anda a maioria dos nossos políticos entretida, com o Governo e o Primeiro-Ministro à cabeça, com a questão do casamento homossexual.
Descontada uma ínfima parte da população que ainda julga que “homossexual “ significa um detergente para o sexo, a grande maioria dos portugueses identifica estes sujeitos de outra forma, que o politicamente correcto impõe que não se pronuncie.
Ora, sabendo-se da alta estima que os portugueses nutrem pelos seus políticos, que por acaso varia entre a genuína fúria e a total indiferença, convém abordar este tema sob a perspectiva popular… e não daqueles que a dizem representar!
Vem esta arengada a propósito da hipótese de se vir a referendar a institucionalização do casamento homossexual.
Aqueles que defendem o referendo argumentam com o facto de se tratar de uma questão de consciência, tal qual a questão do aborto, pelo que mereceria a consulta popular.
Os que se opõem a tal propósito dizem-se legitimados pelo voto popular, porque (pasme-se!) tal medida vinha incluída no seu programa eleitoral que os portugueses sufragaram.
Sejamos sérios: nenhum português, desde o mais recôndito cidadão, que habite isolado nas faldas da serra, até o mais erudito cientista repleto de tecnologia, conhece o programa eleitoral dos partidos políticos.
Mesmo aqueles que o escreveram, suspeita-se, não os conhecem na íntegra, atendendo que a amálgama de textos que o constituem, terem, notoriamente, vários autores.
Razões suficientes e bastantes para que tal assunto seja submetido a referendo popular.
Dando isto por adquirido centremo-nos na questão essencial: qual deve ser, então, a pergunta a formular aos portugueses?
Os homens que namoram com outros homens são, para o cidadão comum, conhecidos por paneleiros ou maricas – sendo que esta última qualificação é apenas usada quando há crianças por perto.
Assim sendo, sabendo-se que só podem votar os cidadãos maiores de 18 anos, fica facilitada a tarefa de definir quais são os sujeitos a identificar na questão a submeter ao veredicto dos portugueses, sem causar nenhum trauma às crianças.
Aliás, subtrair a audição dos portugueses nesta questão seria uma grande paneleirice. Como, com legítima indignação, serão apelidados de grandes paneleiros todos aqueles que pugnarem para que o povo não seja consultado nesta magna questão de interesse nacional.
Ou seja: se alguns políticos já eram vulgarmente invectivados de malandros, canalhas e “aqueles cabrões”, passarão também a ser nomeados como “aqueles paneleiros”!
Nada que os incomode por aí além, porque alguns deles os são mesmo, justificando plenamente o epíteto.
Mas não nos desviemos do nosso propósito de contribuir, desinteressadamente, para que a pergunta possa ser formulada com objectividade, clareza e precisão.
Determinando a lei que a pergunta ou perguntas a submeter a referendo não podem ser precedidas de quaisquer considerandos, preâmbulos ou notas explicativas, as quais poderiam sugerir ou influenciar o sentido da resposta, e sabendo-se que em qualquer referendo a escolha se resume ao “sim” ou “não”, mandando a lei portuguesa cercear aos portugueses quaisquer veleidades de aporem outros comentários no boletim de voto, convém que a pergunta seja clara e entendível.
Temos para nós, apesar da grandiosidade do tema, que a questão deverá ser formulada de forma singela e acessível.
Pelo que será de afastar palavras como roto, bicha e rabicho por serem fórmulas menos consensuais e até com duplo significado, ao que acresce que a palavra gay é particularmente intolerável (mais outra paneleirice!) por ofender o nosso sentido patriótico de defesa da língua portuguesa, no seu aspecto mais vernáculo.
Assentemos pois que não falaremos em casamento homossexual nem em casamento entre pessoas do mesmo sexo, pois tal seria uma fonte de confusões insanável.
Lembremos a propósito que muitos portugueses, designadamente no preenchimento de formulários onde debitam a sua identificação, respondem sim a seguir à palavra sexo.
Também a hipótese de perguntar se um homem pode casar com outro homem, ou uma mulher casar com outra mulher, é de recusar, por se admitir que a mesma é capciosa – ou um deles não é homem ou uma delas não é mulher!
Pelo que surge meridianamente clara a solução para tal imbróglio!
A única pergunta objectiva, clara e precisa é a seguinte:
Deve ser autorizado o casamento de paneleiros uns com os outros?
Esta é a única questão a apreciar. Discorrer sobre os seus possíveis efeitos caberá aos estudiosos fazê-lo, prever as suas consequências será tarefa de visionários, mas o que importa, verdadeiramente, é respeitar a vontade popular.
Por isso se aconselha aos políticos que se deixem de paneleirices e resolvam esta matéria rapidamente. Porque as grandes preocupações dos portugueses estão todas por resolver e esta não é, seguramente, uma delas!
Nota final – Quando escrevi estas páginas ainda se discutia esta questão. Todos sabem que, numa medida para lamentar, foi recusada que esta matéria fosse referendada pelo Povo tendo, para lamento de muitos, sido aprovado o “casamento” homossexual…
Anda a maioria dos nossos políticos entretida, com o Governo e o Primeiro-Ministro à cabeça, com a questão do casamento homossexual.
Descontada uma ínfima parte da população que ainda julga que “homossexual “ significa um detergente para o sexo, a grande maioria dos portugueses identifica estes sujeitos de outra forma, que o politicamente correcto impõe que não se pronuncie.
Ora, sabendo-se da alta estima que os portugueses nutrem pelos seus políticos, que por acaso varia entre a genuína fúria e a total indiferença, convém abordar este tema sob a perspectiva popular… e não daqueles que a dizem representar!
Vem esta arengada a propósito da hipótese de se vir a referendar a institucionalização do casamento homossexual.
Aqueles que defendem o referendo argumentam com o facto de se tratar de uma questão de consciência, tal qual a questão do aborto, pelo que mereceria a consulta popular.
Os que se opõem a tal propósito dizem-se legitimados pelo voto popular, porque (pasme-se!) tal medida vinha incluída no seu programa eleitoral que os portugueses sufragaram.
Sejamos sérios: nenhum português, desde o mais recôndito cidadão, que habite isolado nas faldas da serra, até o mais erudito cientista repleto de tecnologia, conhece o programa eleitoral dos partidos políticos.
Mesmo aqueles que o escreveram, suspeita-se, não os conhecem na íntegra, atendendo que a amálgama de textos que o constituem, terem, notoriamente, vários autores.
Razões suficientes e bastantes para que tal assunto seja submetido a referendo popular.
Dando isto por adquirido centremo-nos na questão essencial: qual deve ser, então, a pergunta a formular aos portugueses?
Os homens que namoram com outros homens são, para o cidadão comum, conhecidos por paneleiros ou maricas – sendo que esta última qualificação é apenas usada quando há crianças por perto.
Assim sendo, sabendo-se que só podem votar os cidadãos maiores de 18 anos, fica facilitada a tarefa de definir quais são os sujeitos a identificar na questão a submeter ao veredicto dos portugueses, sem causar nenhum trauma às crianças.
Aliás, subtrair a audição dos portugueses nesta questão seria uma grande paneleirice. Como, com legítima indignação, serão apelidados de grandes paneleiros todos aqueles que pugnarem para que o povo não seja consultado nesta magna questão de interesse nacional.
Ou seja: se alguns políticos já eram vulgarmente invectivados de malandros, canalhas e “aqueles cabrões”, passarão também a ser nomeados como “aqueles paneleiros”!
Nada que os incomode por aí além, porque alguns deles os são mesmo, justificando plenamente o epíteto.
Mas não nos desviemos do nosso propósito de contribuir, desinteressadamente, para que a pergunta possa ser formulada com objectividade, clareza e precisão.
Determinando a lei que a pergunta ou perguntas a submeter a referendo não podem ser precedidas de quaisquer considerandos, preâmbulos ou notas explicativas, as quais poderiam sugerir ou influenciar o sentido da resposta, e sabendo-se que em qualquer referendo a escolha se resume ao “sim” ou “não”, mandando a lei portuguesa cercear aos portugueses quaisquer veleidades de aporem outros comentários no boletim de voto, convém que a pergunta seja clara e entendível.
Temos para nós, apesar da grandiosidade do tema, que a questão deverá ser formulada de forma singela e acessível.
Pelo que será de afastar palavras como roto, bicha e rabicho por serem fórmulas menos consensuais e até com duplo significado, ao que acresce que a palavra gay é particularmente intolerável (mais outra paneleirice!) por ofender o nosso sentido patriótico de defesa da língua portuguesa, no seu aspecto mais vernáculo.
Assentemos pois que não falaremos em casamento homossexual nem em casamento entre pessoas do mesmo sexo, pois tal seria uma fonte de confusões insanável.
Lembremos a propósito que muitos portugueses, designadamente no preenchimento de formulários onde debitam a sua identificação, respondem sim a seguir à palavra sexo.
Também a hipótese de perguntar se um homem pode casar com outro homem, ou uma mulher casar com outra mulher, é de recusar, por se admitir que a mesma é capciosa – ou um deles não é homem ou uma delas não é mulher!
Pelo que surge meridianamente clara a solução para tal imbróglio!
A única pergunta objectiva, clara e precisa é a seguinte:
Deve ser autorizado o casamento de paneleiros uns com os outros?
Esta é a única questão a apreciar. Discorrer sobre os seus possíveis efeitos caberá aos estudiosos fazê-lo, prever as suas consequências será tarefa de visionários, mas o que importa, verdadeiramente, é respeitar a vontade popular.
Por isso se aconselha aos políticos que se deixem de paneleirices e resolvam esta matéria rapidamente. Porque as grandes preocupações dos portugueses estão todas por resolver e esta não é, seguramente, uma delas!
Nota final – Quando escrevi estas páginas ainda se discutia esta questão. Todos sabem que, numa medida para lamentar, foi recusada que esta matéria fosse referendada pelo Povo tendo, para lamento de muitos, sido aprovado o “casamento” homossexual…
O ELEVADOR DA GLÓRIA
O ELEVADOR DA GLÓRIA
Por decisão da CARRIS, a utilização do elevador da Glória, para quem não seja detentor do passe social daquela instituição, obriga à compra de dois bilhetes, no valor total de € 3,00, independentemente do cliente pretender fazer apenas uma viagem – para cima ou para baixo.
Esta decisão, que encheu de júbilo todos os lisboetas e, também, os turistas ou visitantes ocasionais desta cidade, é um paradigma sobre como agir para fazer face à crise que nos atormenta.
Esta medida ímpar – de vender bilhetes unicamente aos pares – ilustra quanto esta empresa pública de transportes se preocupa em mimar e educar os seus clientes.
Opondo-se às brejeiras campanhas do “pague um e leve dois”, com um inexcedível sentido de bom gosto e de modernidade, a CARRIS contrapõe “pague dois mesmo que só use um”.
Bem sabemos que os habituais invejosos recriminarão tal decisão, caluniando-a, torpemente, como uma medida para arrancar dinheiro ao consumidor contra a sua vontade.
Mas só a inveja pode alimentar tamanha calúnia!
O frequentador do elevador da Glória não pode ser confundido com o ordinário viajante que paga apenas um bilhete por trajecto – este limita-se, qual carneiro em rebanho, a seguir com os outros.
Ao invés, no elevador da Glória, o viajante tem o privilégio da escolha, livre e consciente, de só subir ou só descer, ou ainda de fazer as duas coisas, o que muito enriquece o património intelectual da humanidade.
Estamos certos que os turistas que nos visitam hão-de descrever esta experiência junto dos seus conterrâneos com entusiasmo indescritível, recolocando Portugal nas bocas do mundo, glorificando este fenómeno civilizacional.
Vaticino, assim, o próximo reconhecimento do elevador da Glória como monumento nacional e como um novo ex libris da cidade de Lisboa, ou mesmo de Portugal.
Esta minha convicção advém do facto da Torre Eiffel ser um dos símbolos de França e também aí se vender um só bilhete para os percursos ascendentes e descendentes, embora necessariamente por esta ordem. Resulta daqui provado que os críticos desta medida revelam, também, uma concepção provinciana deste novo modelo tarifário.
Nem se oponha que do alto da Torre Eiffel não se vai a lado nenhum, pois todos sabemos que a principal função dos elevadores é subir e descer.
Também neste aspecto o elevador da Glória leva a palma a outros monumentos do género. Ao terminar a subida (ou descida) o utente sai para a rua, fazendo o que muito bem lhe aprouver. Até pode com este bi-bilhete subir duas vezes ou descer duas vezes – é a liberdade em todo o seu esplendor.
Ou seja: é livre de escolher o seu percurso, não é enclausurado no elevador, mesmo que pretenda voltar ao lugar de origem.
Ora, tudo isto propicia a reflexão filosófica e permite-nos usufruirmos de raros momentos de reflexão introspectiva sobre a magna questão: porque tenho de pagar dois bilhetes se apenas quero fazer um trajecto?
Haverá algo de mais sublime, de mais profundo, do que isto?
Bem-haja à CARRIS por nos ter elucidado, de forma tão arrebatadora, sobre o pleno significado da expressão “serviço público”!
Por decisão da CARRIS, a utilização do elevador da Glória, para quem não seja detentor do passe social daquela instituição, obriga à compra de dois bilhetes, no valor total de € 3,00, independentemente do cliente pretender fazer apenas uma viagem – para cima ou para baixo.
Esta decisão, que encheu de júbilo todos os lisboetas e, também, os turistas ou visitantes ocasionais desta cidade, é um paradigma sobre como agir para fazer face à crise que nos atormenta.
Esta medida ímpar – de vender bilhetes unicamente aos pares – ilustra quanto esta empresa pública de transportes se preocupa em mimar e educar os seus clientes.
Opondo-se às brejeiras campanhas do “pague um e leve dois”, com um inexcedível sentido de bom gosto e de modernidade, a CARRIS contrapõe “pague dois mesmo que só use um”.
Bem sabemos que os habituais invejosos recriminarão tal decisão, caluniando-a, torpemente, como uma medida para arrancar dinheiro ao consumidor contra a sua vontade.
Mas só a inveja pode alimentar tamanha calúnia!
O frequentador do elevador da Glória não pode ser confundido com o ordinário viajante que paga apenas um bilhete por trajecto – este limita-se, qual carneiro em rebanho, a seguir com os outros.
Ao invés, no elevador da Glória, o viajante tem o privilégio da escolha, livre e consciente, de só subir ou só descer, ou ainda de fazer as duas coisas, o que muito enriquece o património intelectual da humanidade.
Estamos certos que os turistas que nos visitam hão-de descrever esta experiência junto dos seus conterrâneos com entusiasmo indescritível, recolocando Portugal nas bocas do mundo, glorificando este fenómeno civilizacional.
Vaticino, assim, o próximo reconhecimento do elevador da Glória como monumento nacional e como um novo ex libris da cidade de Lisboa, ou mesmo de Portugal.
Esta minha convicção advém do facto da Torre Eiffel ser um dos símbolos de França e também aí se vender um só bilhete para os percursos ascendentes e descendentes, embora necessariamente por esta ordem. Resulta daqui provado que os críticos desta medida revelam, também, uma concepção provinciana deste novo modelo tarifário.
Nem se oponha que do alto da Torre Eiffel não se vai a lado nenhum, pois todos sabemos que a principal função dos elevadores é subir e descer.
Também neste aspecto o elevador da Glória leva a palma a outros monumentos do género. Ao terminar a subida (ou descida) o utente sai para a rua, fazendo o que muito bem lhe aprouver. Até pode com este bi-bilhete subir duas vezes ou descer duas vezes – é a liberdade em todo o seu esplendor.
Ou seja: é livre de escolher o seu percurso, não é enclausurado no elevador, mesmo que pretenda voltar ao lugar de origem.
Ora, tudo isto propicia a reflexão filosófica e permite-nos usufruirmos de raros momentos de reflexão introspectiva sobre a magna questão: porque tenho de pagar dois bilhetes se apenas quero fazer um trajecto?
Haverá algo de mais sublime, de mais profundo, do que isto?
Bem-haja à CARRIS por nos ter elucidado, de forma tão arrebatadora, sobre o pleno significado da expressão “serviço público”!
sexta-feira, 13 de junho de 2008
A nova trilogia dos “efes”
O Presidente da República, no passado dia 10 de Junho, em discurso proferido no Parlamento, evocou o dia da raça.
Tal bastou para que as luminárias habituais suscitassem os fantasmas do passado, vendo resquícios do fascismo em tal prodigiosa afirmação.
Que querem explicações para tão tremenda ofensa.
Como seria de esperar, com pacata sensatez, o Presidente da República não lhes fez a vontade, ignorando esse ulular inconsequente de uma esquerda velha e caduca que vive mergulhada nos mitos do passado.
Porque ter raça significa ter vontade inquebrantável, ser perseverante, determinado e lutador, o que nos tempos que correm vivamente se aconselha aos portugueses.
Aliás, o espectro fascizante que alguns quiseram associar a tal dito parece mostrar o receio que a trilogia do Estado Novo – Fado, Futebol e Fátima - ressuscite das cinzas.
Cumpre-nos informar os mais desatentos que a famosa e temida trilogia de Salazar já anda por aí à solta, à descarada, embora com novas roupagens.
Agora os três “efes” são fado, futebol e festa, secularizando o fervor religioso de Fátima.
O novo fervor nacional é a nossa selecção de futebol.
Aumentam os combustíveis pela enésima vez – marque-se um golo à Turquia!
O país corre o risco de paralisar em face do bloqueio dos camionistas – desfaça-se a muralha defensiva da equipa checa!
O Governo mostra uma notória incapacidade para reagir a estes novos tempos de crise - sirvam-se, em doses maciças, reportagens sobre o quotidiano da nossa selecção.
Curioso, de facto, é que os nossos políticos (em particular aqueles que são oposição ao Governo) não tenham a coragem de assumir que esta forma de tratar o futebol é o novo ópio do povo.
Como é evidente a nossa selecção não tem qualquer culpa nisto. Limita-se - dando lições de competência e eficácia - a ir despachando os adversários que se nos deparam.
Mas, objectivamente, se as vitórias da selecção nacional embriagam os portugueses há que temer a consequente ressaca.
Acabado o Europeu de Futebol a ilusão da festa termina e volta o fado.
Por cada novo aumento de combustíveis já não há golos para mostrar, apenas o desespero e a revolta contra a ineficácia e insensibilidade do Governo.
Estiola a agricultura, afunda-se a pesca, esmorece a esperança – já não há desfiles da selecção e festejos que nos acudam.
A Justiça continua sem meios, é lenta e ineficaz – já não entusiasma uma discussão sobre um erro de arbitragem no Europeu.
A insegurança alastra, a burocracia imobiliza-nos – de nada nos serve reflectir sobre as tácticas da nossa selecção.
Recomeçam as aulas e a educação continua sem funcionar - já não há entrevista a Scolari que nos entretenha.
A economia resvala, empobrecem os portugueses, o país definha – nem as fintas de Cristiano Ronaldo nos servem de consolo.
Acabado o Europeu de Futebol, o país não voltará a ser como era. A depressão será maior, o quotidiano estará pior…
Para agravar tal situação confirmámos, de fonte segura, que o Chelsea não pretende levar o Eng.º Sócrates.
Nem sequer para apanha-bolas!
O Presidente da República, no passado dia 10 de Junho, em discurso proferido no Parlamento, evocou o dia da raça.
Tal bastou para que as luminárias habituais suscitassem os fantasmas do passado, vendo resquícios do fascismo em tal prodigiosa afirmação.
Que querem explicações para tão tremenda ofensa.
Como seria de esperar, com pacata sensatez, o Presidente da República não lhes fez a vontade, ignorando esse ulular inconsequente de uma esquerda velha e caduca que vive mergulhada nos mitos do passado.
Porque ter raça significa ter vontade inquebrantável, ser perseverante, determinado e lutador, o que nos tempos que correm vivamente se aconselha aos portugueses.
Aliás, o espectro fascizante que alguns quiseram associar a tal dito parece mostrar o receio que a trilogia do Estado Novo – Fado, Futebol e Fátima - ressuscite das cinzas.
Cumpre-nos informar os mais desatentos que a famosa e temida trilogia de Salazar já anda por aí à solta, à descarada, embora com novas roupagens.
Agora os três “efes” são fado, futebol e festa, secularizando o fervor religioso de Fátima.
O novo fervor nacional é a nossa selecção de futebol.
Aumentam os combustíveis pela enésima vez – marque-se um golo à Turquia!
O país corre o risco de paralisar em face do bloqueio dos camionistas – desfaça-se a muralha defensiva da equipa checa!
O Governo mostra uma notória incapacidade para reagir a estes novos tempos de crise - sirvam-se, em doses maciças, reportagens sobre o quotidiano da nossa selecção.
Curioso, de facto, é que os nossos políticos (em particular aqueles que são oposição ao Governo) não tenham a coragem de assumir que esta forma de tratar o futebol é o novo ópio do povo.
Como é evidente a nossa selecção não tem qualquer culpa nisto. Limita-se - dando lições de competência e eficácia - a ir despachando os adversários que se nos deparam.
Mas, objectivamente, se as vitórias da selecção nacional embriagam os portugueses há que temer a consequente ressaca.
Acabado o Europeu de Futebol a ilusão da festa termina e volta o fado.
Por cada novo aumento de combustíveis já não há golos para mostrar, apenas o desespero e a revolta contra a ineficácia e insensibilidade do Governo.
Estiola a agricultura, afunda-se a pesca, esmorece a esperança – já não há desfiles da selecção e festejos que nos acudam.
A Justiça continua sem meios, é lenta e ineficaz – já não entusiasma uma discussão sobre um erro de arbitragem no Europeu.
A insegurança alastra, a burocracia imobiliza-nos – de nada nos serve reflectir sobre as tácticas da nossa selecção.
Recomeçam as aulas e a educação continua sem funcionar - já não há entrevista a Scolari que nos entretenha.
A economia resvala, empobrecem os portugueses, o país definha – nem as fintas de Cristiano Ronaldo nos servem de consolo.
Acabado o Europeu de Futebol, o país não voltará a ser como era. A depressão será maior, o quotidiano estará pior…
Para agravar tal situação confirmámos, de fonte segura, que o Chelsea não pretende levar o Eng.º Sócrates.
Nem sequer para apanha-bolas!
sexta-feira, 25 de abril de 2008
O BARDO E O DRUÍDA
A nossa inefável Assembleia da República continua a ser uma escola de virtudes.
Numa sessão recente, o deputado Patinha Antão e o Ministro das Finanças discutiam sobre as dívidas do Estado e o fenómeno da desorçamentação, trazendo, a benefício do Povo, alegorias com a banda desenhada de Astérix e Obélix.
Bem sei que dos deputados e dos membros do Governo não se esperam ideias, mas exige-se, em nome da mais elementar decência, que, querendo ser irónicos, ao menos o façam com eloquência e graça.
Mas o que assistimos neste "debate" não foi nem graça engenhosa, nem discurso primoroso - foi a demonstração espontânea da boçalidade dos oradores.
O deputado comparou o Ministro ao bardo da aldeia dos gauleses, que por tão mal cantar apanhava com peixes podres na cara.
O Ministro reagiu dizendo que se sentia mais como o druída Panoramix, por ter a poção mágica do equilibrio orçamental.
Ou seja: no Parlamento já não se discute sequer política!
O que se discute são os heróis da banda desenhada!
Para acudir a tal infortúnio sugerimos aos visados, a propósito da história dos desfalques com que o Estado nos presenteia, que troquem apenas uns bilhetinhos (de preferência soprados de uma esferográfica sem carga) onde se insultem mutuamente, com liberdade total, dispensando-nos ao espectáculo público da sua alarvidade.
É que, admito que ainda não tenham reparado, os cidadãos assistem atónitos a estas disputas, sem perceberem porque é que cada vez vivem pior, sem ensino e saúde decente, sem segurança e com menos emprego, apesar do estupendo fenómeno da consolidação das contas públicas...
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